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Prefeitura Municipal de Malhador

EMBELECO DO ALECRIM: ANTES E DEPOIS

A tradição do Embeleco é antiga. Tudo indica que essa manifestação cultural chegou à localidade com os primeiros colonizadores católicos da região.


30.Mar.2024

Todos os anos, nos meses antecedentes à Quaresma, os moradores de Alecrim, em Malhador, Estado de Sergipe, iniciam o planejamento da festa de maior popularidade daquele povoado. O ponto culminante dessa festividade secular ocorre no Sábado de Aleluia. Nesse dia, um grupo formado por homens idosos, adultos e adolescentes percorrem as ruas do vilarejo, fantasiados de bruxas, monstros, corcundas e vampiros, assustando os moradores e aterrorizando os cães que, espavoridos, fogem a toda velocidade. 


O esquenta do Embeleco começa cedo, por volta das quatro da madrugada do sábado, isso depois de muita arrumação, iniciada no dia anterior que é a Sexta-Feira Santa. Sempre foi assim e ocorre até hoje. O desfile das caretas sai de um ponto de concentração. Esse lugar, geralmente, é cedido pelo organizador do evento ou de algum simpatizante. 


Nessa concentração, guarda-se um boneco feito de saco, recheado de trapos, vestido com um terno velho, levando sobre a cabeça um chapéu de palha. É a representação de Judas Iscariotes, aquele discípulo de Jesus que O traiu, vendendo-O aos soldados romanos por 30 moedas. O manequim que representa Judas é confeccionado em tamanho de um homem médio e, em tempos antigos, transportado no lombo de um jumento. Com a modernidade, Iscariotes não viaja mais em lombo de um burro. Tanto ele como os personagens do cortejo seguem na carroceria de um caminhão.
 
Porém, não só os monstros, as bruxas, os corcundas e os vampiros fazem parte do desfile das caretas de Sábado de Aleluia. No elenco, existem personagens indispensáveis para o evento, como percursionistas, guripas, palhaços, donzelinhas, médicos, curandeiros, adivinhos e uma quantidade de outros tipos fantasiados que não se enquadra em nenhuma dessas categorias acima.
 
O Embeleco ou desfile das caretas de Sábado de Aleluia se tornou uma marca cultural não só do Alecrim, mas também do município e de outras localidades vizinhas. Isso se justifica pelo fato de o nosso Embeleco iniciar o desfile nesse povoado e atravessar as fronteiras malhadorenses, chegando aos povoados de Rio Escuro, Areias e Lagoa, em Santa Rosa de Lima. Do outro lado da serra, chega ao Capunga, município de Moita Bonita. Em anos remotos, já foi mais longe, inclusive ao Itapecuru, povoado pertencente à cidade de Nossa Senhora das Dores.
 
Essa integração vem de longo tempo, desde quando me entendi por gente. Na década de 1960, era normal que as caretas do Alecrim visitassem o Capunga no Sábado de Aleluia e, no Domingo de Páscoa pela manhã, era o dia de as caretas do Capunga  visitarem o Alecrim. 
 
Depois de percorrerem o Rio Escuro, Areias, Lagoa e Capunga, as caretas retornam para o Alecrim e chegam no começo da tarde. Ao chegarem, exibem-se em praça pública, percorrem as ruas do povoado, dançam em frente às residências, adentram algumas e visitam os estabelecimentos comerciais onde são recepcionados pelos os donos os quais distribuem bebidas, lanches e uma quantidade em dinheiro. 
 
Lá fora, ficam alguns interpretes, como os bruxos, os corcundas e os vampiros em perseguição aos moleques. Estes fogem do jeito que podem a fim de escaparem aos trotes impostos por aqueles personagens hediondos. Enquanto isso, a turma dos médicos, curandeiros e videntes procuram entre os populares seus eventuais clientes.
 
O pano de fundo do Embeleco é formado pelas donzelinhas, guripas e palhaços que dão um colorido especial ao cortejo. 
 
Ao final da tarde, todos estão cansados, mas felizes. Valeu a pena todo o trabalho realizado durante tanto tempo. Se ganhou dinheiro ou não, isso pouco importa. O importante mesmo foram os momentos de alegria e de descontração que contagiou a todos nas últimas horas. 
 
No entanto, a festa não termina com o cessar da batucada e dos apitos dos guripas. Isso só ocorre à noite com a leitura do testamento. Nessa hora, é dado conhecimento à comunidade de quem serão os herdeiros da fortuna e dos bens deixados por Judas Iscariotes. Quem tiver a sorte ganhará alguma coisa e sairá comemorando. Quem não tiver, paciência!  Aguarde o próximo ano! Afinal das contas, Iscariotes depois de queimado, ressurge sempre no ano seguinte.

30.Mar.2024

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